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Dicas para um Carnaval com segurança digital

Escrito por

10 de fevereiro de 2020

Cuidados pessoais são uma parte fundamental do Carnaval. Como qualquer folião experiente sabe, o uso de filtro solar e a hidratação correta, por exemplo, são essenciais para reduzir os danos causados pelas longas horas sob o sol e pelo consumo de álcool. Mas os riscos para a saúde não são os únicos: o Carnaval também traz perigos para nosso bem-estar no mundo digital. Durante as comemorações, estamos mais suscetíveis a furtos de celulares, golpes aplicados pela internet e problemas relacionados ao uso da internet sob efeito de substâncias etílicas e psicotrópicas.

No post de hoje do blog do IRIS, examinamos alguns dos riscos à segurança digital dos usuários durante a maior festa popular do Brasil, bem como cuidados a serem tomados para se foliar com segurança digital.

Protegendo seu celular e seus dados pessoais

Sabemos que roubos e furtos de celulares e outros bens são comuns durante a folia. A combinação entre grandes aglomerações de pessoas e substâncias que reduzem a atenção do indivíduo favorecem o aumento na frequência desse tipo de crime. Na cidade de São Paulo, por exemplo, um levantamento realizado pela SPTV identificou uma média de 880 roubos e furtos por dia durante os dias de bloco no Carnaval de 2018, número que caiu para 200 em dias comuns.

Nesse cenário, o mais recomendado é que o aparelho seja deixado em casa. Se o usuário possuir um dispositivo reserva de menor valor, uma opção é inserir seu chip nele e levá-lo no lugar do celular principal. Caso o folião considere indispensável levar o aparelho, cuidados básicos também ajudam a mitigar o risco de perdê-lo, como evitar utilizá-lo no meio de multidões e preferir estabelecimentos comerciais para seu manuseio. 

Mesmo com as devidas precauções, no entanto, furtos e roubos podem acabar ocorrendo. Nessas ocasiões, é importante que o usuário tenha tomado precauções para proteger seus dados pessoais e aplicativos, uma vez que nossos celulares são os meios pelos quais acessamos nossas redes sociais e contas bancárias. Abaixo listamos alguns cuidados que podem contribuir para dificultar o acesso de criminosos às contas e informações da vítima:

  • Configure um mecanismo de bloqueio de tela. Além de funcionar como uma barreira para o acesso às informações no dispositivo, muitos aparelhos permitem que o usuário ative a autodestruição dos dados após um certo número de tentativas de acesso mal-sucedidas, o que oferece uma camada a mais de proteção;
  • Configure senhas de acesso para apps específicos. Muitos aplicativos exigem ou permitem a definição de uma senha de acesso. Definir uma senha diferente da utilizada na tela de bloqueio é útil, pois, em alguns casos de roubo, criminosos obrigam a vítima a desbloquear sua tela inicial.
  • Criptografe seus arquivos. Muitos smartphones atuais vêm com a criptografia do disco rígido ativada automaticamente, outros exigem que você a ative manualmente na seção “Segurança” das configurações. A combinação entre bloqueio de tela e cifragem dos dados é uma forte defesa contra o acesso por terceiros não-autorizados;
  • Anote o IMEI (International Mobile Equipment Identity) de seu dispositivo. Esse número é um identificador global único que pode ser consultado na caixa do celular, no adesivo em sua bateria ou ligando para *#06#. De posse dele, o usuário consegue bloquear o aparelho na operadora e registrar um boletim de ocorrência online rapidamente. Informar o IMEI também serve para que polícia devolva o celular ao dono em caso de apreensão posterior;
  • Tenha sempre um backup atualizado. Perder o dispositivo pode significar perder o acesso a boa parte de seus arquivos multimídia, configurações de apps, senhas de wi-fi, etc. Com uma cópia de segurança, é possível economizar muito tempo.

Não morda a isca dos golpes de phishing

O Carnaval brasileiro é uma referência global em turismo. Muitos estrangeiros aproveitam para conhecer o Brasil durante as festas e muitos brasileiros aproveitam o feriado prolongado para viajar domesticamente. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o turismo relacionado ao Carnaval movimentará 8 bilhões de reais em 2020, um aumento real de 1% em relação ao ano passado e o maior volume de receitas desde 2015. Os principais setores beneficiados serão os de alimentação, transporte aéreo e rodoviário e serviços de hospedagem. Para turistas potenciais, a busca por comodidade e agilidade nas pesquisas de preços e nas aquisições de passagens e pacotes turísticos aumentam o apelo da ideia de fazer tudo online.

Esse cenário de elevada demanda facilita a aplicação de golpes de phishing, prática em que criminosos fingem ser uma empresa ou parte confiável a fim de induzir o usuário a compartilhar informações pessoais, como senhas e dados de cartão de crédito. Diversos meios podem ser utilizados para realizar esse tipo de fraude: sites que vendem ingressos para eventos inexistentes, e-mails ou mensagens de SMS com ofertas de descontos exorbitantes e promoções imperdíveis, anúncios de que o usuário venceu algum sorteio acompanhados de links em que se deve clicar para obter o prêmio. Além do uso dos dados obtidos fraudulentamente, muitas vezes a técnica também infecta o sistema da vítima com software malicioso, como vírus e spyware.

Felizmente, há diversas medidas simples que podem ser tomadas para se prevenir contra esse golpe, como alerta o phishing.org, projeto dedicado a combatê-lo:

  • Instale uma barra de ferramentas anti-phishing. Essas ferramentas, que podem ser adicionadas à maioria dos navegadores modernos, executam checagens rápidas nos sites visitados e os comparam a listas de sites de phishing conhecidos. Se o site constar em alguma lista, o usuário é alertado;
  • E-mails pedindo dados pessoais são um mau sinal. Como regra, empresas confiáveis nunca pedem informações confidenciais por e-mail. Na dúvida, entre em contato com a empresa por canais oficiais para verificar a autenticidade da comunicação;
  • Pense antes de clicar em links desconhecidos. Links presentes em e-mails e sites desconhecidos são comumente utilizados para phishing, especialmente se eles levam a páginas que solicitam dados pessoais logo em seguida. Arrastando o ponteiro do mouse sobre link, você pode visualizar a URL à qual ele o destinará, o que pode ajudar a identificar links suspeitos;
  • Cheque a segurança do site. Observe se a URL exibida no navegador começa com “https” e se apresenta um cadeado ao lado. A ausência desses sinais indica que sua conexão não está protegida. Também é recomendado utilizar um verificador de segurança de sites, a exemplo do Navegação Segura do Google.

Se beber, cuidado com o que posta

Sabemos que o Carnaval também é um período em que o consumo de bebidas alcoólicas e substâncias psicoativas aumenta. A ingestão excessiva de álcool oferece diversos riscos à saúde, por isso aconselha-se fortemente que o consumo de bebidas dessa natureza seja feito com moderação e cuidados. Não se deve, por exemplo, beber demasiadamente rápido, de estômago vazio e/ou sem estar devidamente hidratado. Há, porém, perigos associados à embriaguez que muitas vezes passam despercebidos: é o caso dos riscos do fenômeno conhecido como drunk posting.

Drunk Posting é um termo utilizado para descrever o uso de redes sociais sob efeito de grandes quantidades de álcool. Essa prática pode levar à publicação de conteúdo inadequado sem que as consequências futuras sejam devidamente consideradas, o que não raramente resulta em danos reputacionais ao usuário e sensação posterior de arrependimento. Um estudo publicado em dezembro de 2018 identificou casos em que esse fenômeno chegou mesmo a impactar seleções de emprego e processos seletivos em universidades, que avaliavam o comportamento do inscrito nas redes sociais como parte da seleção de admissão.

Para prevenir tais contratempos, a melhor saída é sem dúvida o consumo consciente e moderado. Caso o usuário se exceda, todavia, há modos de se reduzir os riscos de uso indevido das redes sociais. Pode-se, por exemplo, deixar o celular em casa, conforme discutido no início desse texto, ou optar por entregá-lo a uma pessoa de confiança no momento em que se perceber alterado. Alternativamente, há diversos aplicativos que bloqueiam certas funções do aparelho quando o usuário se encontra embrigado, como o acesso a aplicativos específicos e a comunicação com números pré-definidos. Esses apps podem ajudar a prevenir desgastes posteriores quando o usuário recobra a consciência, permitindo que os danos do excesso cometido sejam reduzidos.

Conclusão

 Muitas das dicas citadas ao longo deste texto não valem só para a época de festas, mas podem nos ajudar a manter uma vida digital mais saudável durante todo o ano. Nesse período, contudo, elas são especialmente importantes, pois nos encontramos mais vulneráveis que habitualmente. O Carnaval é um momento de festejo, alegria, sol e diversão, mas é importante tomar precauções e cuidados específicos com nossa saúde e segurança – incluindo a segurança digital – para que possamos curtir a folia sem contratempos. Por isso, antes de sair para pular bloco na semana que vem, que tal fazer backup dos seus arquivos? Ou, melhor ainda, quem sabe você não deixa o celular em casa?

Caso tenha se interessado pelas dicas dadas neste texto, você pode aprender mais sobre como se proteger de outro golpe, a clonagem de chip, em nosso post sobre o tema.

As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.
Ilustração por Freepik Stories

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É diretor do Instituto de Referência em Internet e Sociedade. Mestrando em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bacharel em Antropologia, com habilitação em Antropologia Social, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do núcleo de coordenação da Rede de Pesquisa em Governança da Internet e alumni da Escola de Governança da Internet no Brasil (EGI). Seus interesses temáticos são antropologia do Estado, privacidade e proteção de dados pessoais, sociologia da ciência e da tecnologia, governança de plataformas e políticas de criptografia e cibersegurança.

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