Dicas para um Carnaval com segurança digital
Escrito por
Gustavo Rodrigues (Ver todos os posts desta autoria)
10 de fevereiro de 2020
Cuidados pessoais são uma parte fundamental do Carnaval. Como qualquer folião experiente sabe, o uso de filtro solar e a hidratação correta, por exemplo, são essenciais para reduzir os danos causados pelas longas horas sob o sol e pelo consumo de álcool. Mas os riscos para a saúde não são os únicos: o Carnaval também traz perigos para nosso bem-estar no mundo digital. Durante as comemorações, estamos mais suscetíveis a furtos de celulares, golpes aplicados pela internet e problemas relacionados ao uso da internet sob efeito de substâncias etílicas e psicotrópicas.
No post de hoje do blog do IRIS, examinamos alguns dos riscos à segurança digital dos usuários durante a maior festa popular do Brasil, bem como cuidados a serem tomados para se foliar com segurança digital.
Protegendo seu celular e seus dados pessoais
Sabemos que roubos e furtos de celulares e outros bens são comuns durante a folia. A combinação entre grandes aglomerações de pessoas e substâncias que reduzem a atenção do indivíduo favorecem o aumento na frequência desse tipo de crime. Na cidade de São Paulo, por exemplo, um levantamento realizado pela SPTV identificou uma média de 880 roubos e furtos por dia durante os dias de bloco no Carnaval de 2018, número que caiu para 200 em dias comuns.
Nesse cenário, o mais recomendado é que o aparelho seja deixado em casa. Se o usuário possuir um dispositivo reserva de menor valor, uma opção é inserir seu chip nele e levá-lo no lugar do celular principal. Caso o folião considere indispensável levar o aparelho, cuidados básicos também ajudam a mitigar o risco de perdê-lo, como evitar utilizá-lo no meio de multidões e preferir estabelecimentos comerciais para seu manuseio.
Mesmo com as devidas precauções, no entanto, furtos e roubos podem acabar ocorrendo. Nessas ocasiões, é importante que o usuário tenha tomado precauções para proteger seus dados pessoais e aplicativos, uma vez que nossos celulares são os meios pelos quais acessamos nossas redes sociais e contas bancárias. Abaixo listamos alguns cuidados que podem contribuir para dificultar o acesso de criminosos às contas e informações da vítima:
- Configure um mecanismo de bloqueio de tela. Além de funcionar como uma barreira para o acesso às informações no dispositivo, muitos aparelhos permitem que o usuário ative a autodestruição dos dados após um certo número de tentativas de acesso mal-sucedidas, o que oferece uma camada a mais de proteção;
- Configure senhas de acesso para apps específicos. Muitos aplicativos exigem ou permitem a definição de uma senha de acesso. Definir uma senha diferente da utilizada na tela de bloqueio é útil, pois, em alguns casos de roubo, criminosos obrigam a vítima a desbloquear sua tela inicial.
- Criptografe seus arquivos. Muitos smartphones atuais vêm com a criptografia do disco rígido ativada automaticamente, outros exigem que você a ative manualmente na seção “Segurança” das configurações. A combinação entre bloqueio de tela e cifragem dos dados é uma forte defesa contra o acesso por terceiros não-autorizados;
- Anote o IMEI (International Mobile Equipment Identity) de seu dispositivo. Esse número é um identificador global único que pode ser consultado na caixa do celular, no adesivo em sua bateria ou ligando para *#06#. De posse dele, o usuário consegue bloquear o aparelho na operadora e registrar um boletim de ocorrência online rapidamente. Informar o IMEI também serve para que polícia devolva o celular ao dono em caso de apreensão posterior;
- Tenha sempre um backup atualizado. Perder o dispositivo pode significar perder o acesso a boa parte de seus arquivos multimídia, configurações de apps, senhas de wi-fi, etc. Com uma cópia de segurança, é possível economizar muito tempo.
Não morda a isca dos golpes de phishing
O Carnaval brasileiro é uma referência global em turismo. Muitos estrangeiros aproveitam para conhecer o Brasil durante as festas e muitos brasileiros aproveitam o feriado prolongado para viajar domesticamente. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o turismo relacionado ao Carnaval movimentará 8 bilhões de reais em 2020, um aumento real de 1% em relação ao ano passado e o maior volume de receitas desde 2015. Os principais setores beneficiados serão os de alimentação, transporte aéreo e rodoviário e serviços de hospedagem. Para turistas potenciais, a busca por comodidade e agilidade nas pesquisas de preços e nas aquisições de passagens e pacotes turísticos aumentam o apelo da ideia de fazer tudo online.
Esse cenário de elevada demanda facilita a aplicação de golpes de phishing, prática em que criminosos fingem ser uma empresa ou parte confiável a fim de induzir o usuário a compartilhar informações pessoais, como senhas e dados de cartão de crédito. Diversos meios podem ser utilizados para realizar esse tipo de fraude: sites que vendem ingressos para eventos inexistentes, e-mails ou mensagens de SMS com ofertas de descontos exorbitantes e promoções imperdíveis, anúncios de que o usuário venceu algum sorteio acompanhados de links em que se deve clicar para obter o prêmio. Além do uso dos dados obtidos fraudulentamente, muitas vezes a técnica também infecta o sistema da vítima com software malicioso, como vírus e spyware.
Felizmente, há diversas medidas simples que podem ser tomadas para se prevenir contra esse golpe, como alerta o phishing.org, projeto dedicado a combatê-lo:
- Instale uma barra de ferramentas anti-phishing. Essas ferramentas, que podem ser adicionadas à maioria dos navegadores modernos, executam checagens rápidas nos sites visitados e os comparam a listas de sites de phishing conhecidos. Se o site constar em alguma lista, o usuário é alertado;
- E-mails pedindo dados pessoais são um mau sinal. Como regra, empresas confiáveis nunca pedem informações confidenciais por e-mail. Na dúvida, entre em contato com a empresa por canais oficiais para verificar a autenticidade da comunicação;
- Pense antes de clicar em links desconhecidos. Links presentes em e-mails e sites desconhecidos são comumente utilizados para phishing, especialmente se eles levam a páginas que solicitam dados pessoais logo em seguida. Arrastando o ponteiro do mouse sobre link, você pode visualizar a URL à qual ele o destinará, o que pode ajudar a identificar links suspeitos;
- Cheque a segurança do site. Observe se a URL exibida no navegador começa com “https” e se apresenta um cadeado ao lado. A ausência desses sinais indica que sua conexão não está protegida. Também é recomendado utilizar um verificador de segurança de sites, a exemplo do Navegação Segura do Google.
Se beber, cuidado com o que posta
Sabemos que o Carnaval também é um período em que o consumo de bebidas alcoólicas e substâncias psicoativas aumenta. A ingestão excessiva de álcool oferece diversos riscos à saúde, por isso aconselha-se fortemente que o consumo de bebidas dessa natureza seja feito com moderação e cuidados. Não se deve, por exemplo, beber demasiadamente rápido, de estômago vazio e/ou sem estar devidamente hidratado. Há, porém, perigos associados à embriaguez que muitas vezes passam despercebidos: é o caso dos riscos do fenômeno conhecido como drunk posting.
Drunk Posting é um termo utilizado para descrever o uso de redes sociais sob efeito de grandes quantidades de álcool. Essa prática pode levar à publicação de conteúdo inadequado sem que as consequências futuras sejam devidamente consideradas, o que não raramente resulta em danos reputacionais ao usuário e sensação posterior de arrependimento. Um estudo publicado em dezembro de 2018 identificou casos em que esse fenômeno chegou mesmo a impactar seleções de emprego e processos seletivos em universidades, que avaliavam o comportamento do inscrito nas redes sociais como parte da seleção de admissão.
Para prevenir tais contratempos, a melhor saída é sem dúvida o consumo consciente e moderado. Caso o usuário se exceda, todavia, há modos de se reduzir os riscos de uso indevido das redes sociais. Pode-se, por exemplo, deixar o celular em casa, conforme discutido no início desse texto, ou optar por entregá-lo a uma pessoa de confiança no momento em que se perceber alterado. Alternativamente, há diversos aplicativos que bloqueiam certas funções do aparelho quando o usuário se encontra embrigado, como o acesso a aplicativos específicos e a comunicação com números pré-definidos. Esses apps podem ajudar a prevenir desgastes posteriores quando o usuário recobra a consciência, permitindo que os danos do excesso cometido sejam reduzidos.
Conclusão
Muitas das dicas citadas ao longo deste texto não valem só para a época de festas, mas podem nos ajudar a manter uma vida digital mais saudável durante todo o ano. Nesse período, contudo, elas são especialmente importantes, pois nos encontramos mais vulneráveis que habitualmente. O Carnaval é um momento de festejo, alegria, sol e diversão, mas é importante tomar precauções e cuidados específicos com nossa saúde e segurança – incluindo a segurança digital – para que possamos curtir a folia sem contratempos. Por isso, antes de sair para pular bloco na semana que vem, que tal fazer backup dos seus arquivos? Ou, melhor ainda, quem sabe você não deixa o celular em casa?
Caso tenha se interessado pelas dicas dadas neste texto, você pode aprender mais sobre como se proteger de outro golpe, a clonagem de chip, em nosso post sobre o tema.
As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.
Ilustração por Freepik Stories
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Gustavo Rodrigues (Ver todos os posts desta autoria)
É diretor do Instituto de Referência em Internet e Sociedade. Mestrando em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bacharel em Antropologia, com habilitação em Antropologia Social, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Membro do núcleo de coordenação da Rede de Pesquisa em Governança da Internet e alumni da Escola de Governança da Internet no Brasil (EGI). Seus interesses temáticos são antropologia do Estado, privacidade e proteção de dados pessoais, sociologia da ciência e da tecnologia, governança de plataformas e políticas de criptografia e cibersegurança.