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Uma causa para o ano inteiro: Muito além do “setembro” amarelo

18 de setembro de 2019

Em 2015 no Brasil, foi criada a campanha “Setembro Amarelo”, iniciativa do CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro). Desde então, a causa é abraçada por pessoas públicas e organizações, principalmente em campanhas na internet, redes sociais, posts e eventos. Certamente é de extrema importância que dediquemos atenção a essa questão, ainda mais vivendo na época em que ansiedade e depressão são consideradas o mal do século. Ainda mais importante é, para além das boas intenções, que a sensibilização sobre os temas relativos à saúde mental e bem-estar emocional sejam uma causa para o ano todo.

Atenção especial à internet

Passando  mais tempo conectados que nunca, é necessário refletir de forma crítica sobre o conteúdo consumido e divulgado. Sabemos da grande e diversa gama de conteúdos da internet e da necessidade de olhar com mais atenção. Muitas vezes o compartilhamento de conteúdo não é movido por más intenções, considerando a banalização e a escalabilidade da violência que circula pela internet. No entanto, é preciso considerar que determinados conteúdos podem servir de gatilho para alguém que passa por um momento delicado ou que esteve envolvido em alguma situação reverberada online. 

Uma outra questão potencializada pela internet é a propagação de notícias falsas.  Em junho deste ano, o jornal Estado de Minas publicou uma pesquisa internacional em que 90% dos entrevistados disseram acreditar em notícias falsas compartilhadas por meio das redes sociais. Isso reforça a necessidade da cautela ao compartilhar conteúdos, especialmente com a veracidade de notícias sobre tragédias, práticas de saúde e de políticas públicas. Ao invés do apelo e sensacionalismo das tragédias, por exemplo, a sugestão da Safernet é escolher contar as histórias dos heróis. 

Crianças e adolescentes

Em post para o blog que discutia mediação parental, Felipe Duarte aponta a importância do diálogo e orientação dos pais e responsáveis para com as crianças sobre o acesso à conteúdos online. Sendo uma etapa de formação da personalidade e da projeção pessoal na sociedade, conteúdos relacionados ou direcionados a crianças devem ser ainda mais cautelosos. É importante também investir em iniciativas de educação midiática para o uso  consciente e seguro da internet, para prevenir que conteúdos falsos e nocivos atinjam essa faixa etária da população. Algumas iniciativas e boas práticas foram compartilhados no 4 Simpósio – Crianças e Adolescentes na Internet

O que podemos fazer, então? 

Por mais que a iniciativa “Setembro Amarelo” tenha cumprido seu papel, fazendo a população voltar sua atenção para a causa, é preciso mais do que boas-intenções. O contexto digital e a especial atenção ao conteúdo voltado para crianças e adolescentes também precisa ser considerado em nosso comportamento. Lembrando que não somos especialistas e profissionais (a não ser que você seja um) e muitas vezes não basta “abrir seu chat” ou “compartilhar uma imagem” para ajudar alguém, de fato. Abraçar a causa da valorização da vida é um posicionamento que deve sustentar-se em empatia, solidariedade e responsabilidade de forma contínua. A seguir, apresentamos algumas sugestões que envolvem o uso da internet:

  • Você pode se informar

Embora, como dito no parágrafo anterior, a iniciativa tenha expandido a visibilidade dos temas sobre a saúde mental, sabemos que essa ainda parece ser um tabu. Assim, buscar e compartilhar informações confiáveis é um passo muito importante para as causas da saúde mental. Além de subsidiar suas ações de forma saudável, as informações podem auxiliar na quebra de preconceitos e estigmas sociais sobre saúde mental, começando dentro de seu ciclo social. Além disso, pode procurar saber sobre canais de ajuda treinados e com mecanismos mais efetivos, como o helpline da Safernet e o site do CVV

  • Você pode denunciar conteúdos lesivos

As redes sociais são, muitas vezes, meios de circulação de conteúdos violentos, terroristas e com várias situações que podem causar sofrimento para quem navega. O próprio efeito das reações já está sendo questionado no Brasil, como na iniciativa do Instagram de remover a visibilidade de likes no país, por admitir que comparações e visualizações causavam efeitos negativos nos usuários do país. 

Outra ferramenta importante é a de denúncia de conteúdo lesivos, violentos e ilegais. A remoção de conteúdo por plataformas como facebook, youtube e instagram é uma questão polêmica, em razão da necessidade de preservação da liberdade de expressão. No entanto, esse é um mecanismo que deve ser usado pelos usuários nas situações que expõe pessoas a riscos, incitam a violência ou refletem preconceitos e opressões históricas.

Compreender que as pessoas que têm acesso aos conteúdos circulados podem sofrer com essas reproduções ou por entrarem em contato com determinadas situações é um exercício de se colocar no lugar do outro. Pensar no bem-estar de quem faz parte de sua rede significa exercer empatia e estar disposto a contribuir para evitar episódios de sofrimento que podem ser disparados por um comportamento, ainda que ele não tenha essa intenção.

É sempre bom lembrar que, ao mesmo tempo em que se busca evitar conteúdos agressivos, uma boa alternativa é alimentar suas redes com conteúdos que incitem outros usuários a refletir também sobre essa prática. A alternativa a não postar conteúdo violento não é a auto-censura. É, na verdade, optar por conteúdos que contenham informação sem violência explícita e que reflitam a causa de promover o bem-estar das pessoas.

  • Você pode dar um tempo. 

Apesar de dicas, guias e boas práticas, a internet pode continuar sendo um ambiente negativo, de certa forma. O mais importante é que cada um possa entender seu espaço e respeitar seus limites e suas necessidades. E tudo bem pra quem quiser dar um tempo, ter o seu tempo.  As vezes, é preciso sair desta interface de ver o “mundo” e focar em outras coisas que te façam bem. Feche essa janela e se abra para a vida. 

As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.

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