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O cuidado é a melhor defesa

21 de novembro de 2018

A infância é uma fase de inerente cuidado parental. Os pais são responsáveis: pela educação, alimentação, amor e zelo dos filhos. Essa tarefa sempre foi árdua, no entanto, na sociedade digital os pais ganharam alguns aliados e outros grandes inimigos para esta tarefa.

As crianças são fascinadas por tecnologia! Elas ficam hipnotizadas sempre que veem as telas brilhantes e interativas dos dispositivos de acesso à internet. Por essa razão, a maioria dos pais consente o acesso das crianças à internet, tanto para agradá-las quanto para usufruir o tempo que ganham entretendo as crianças, seja para seu trabalho ou seu descanso.

Segundo a TIC KIDS ONLINE 2017, cerca de 32% dos pais não verificam o histórico de acesso de crianças e adolescentes entre 9-17. Parte considerável dos pais também não supervisiona o tempo de acesso, as listas de contatos e as atividades online dos filhos. Essa falta de supervisão, associada à imaturidade das crianças e adolescentes acarreta, dentre outros:

  • Riscos à saúde, como a síndrome do olho seco, distúrbios psicomotores, problemas de sono;
  • Exposição a conteúdos impróprios, como pornografia e violência;
  • Superexposição da imagem;
  • Diminuição rendimento escolar;
  • Risco à saúde física e psicológica;

Riscos à saúde

A infância é uma fase de formação psíquica e motora das crianças, ou seja, é uma fase de estímulo externo e desenvolvimento interno. Portanto, é altamente recomendado que as crianças corram, briquem, conversem, ao invés de ficarem muito tempo sentadas, realizando movimentos repetitivos e conversando com seres não interativos, para que seus corpos recebam os inputs necessários ao seu pleno desenvolvimento. Negligenciar esse cuidado pode gerar uma série danos, físicos, metais e sociais para crianças, muitas vezes irreversíveis.

A sociedade brasileira de pediatria produziu uma cartilha direcionada aos pais, às escolas e aos pediatras informando certos riscos inerentes à saúde das crianças, quando submetidas a longas e não supervisionadas horas de acesso à internet, dentre eles: a síndrome do olho seco e problemas psicomotores. Ela também sugeriu algumas medidas possíveis, para a promoção da saúde deste grupo, dentre eles: o controle de tempo de acesso, conforme a idade; o respeito à classificação etária de jogos e vídeos; e o diálogo constante dos pais com seus filhos.

Exposição a conteúdos impróprios

A liberdade da internet é empoderadora para quem está apto a filtrar as informações que se obtém dela. Isso se dá através do senso crítico e da verificação da fonte por exemplo. Um adulto, em razão da sua experiência de vida, decide sobre o que acessar e em que acreditar. Essa tarefa, mesmo para os adultos, é bastante difícil, imagine para uma pessoa em desenvolvimento!

As crianças e adolescentes podem acessar livremente ou serem expostas a qualquer conteúdo, na internet, inclusive notícias falsas, discursos de ódio, pornografia, publicidade abusiva, desafios como o da Momo e cenas de violência.

Como se nota, elas não possuem maturidade para discernir a veracidade da informação, e isso pode acarretar em processos de desinformação prematuros e o mau condicionamento da personalidade. Ademais, o contato com discursos e imagens violentas pode acarretar em traumas e desvios de comportamentos graves.

Uma alternativa para proteger as crianças dos riscos à exposição de conteúdos impróprios e a ameaça de pessoas reais é filtrar preventivamente o conteúdo que chega até as crianças e adolescentes. Algumas aplicações como a Netflix, o Chrome e Youtube já dispõe de mecanismos configuráveis de controle parental, basta que os pais escolham essa opção. Há ainda a possibilidade de se fazer o bloqueio dos contatos desconhecidos e a instalação de aplicativos nos aparelhos que as crianças e adolescentes usam, que realizam o controle parental como o kids place entre outros.

Superexposição da imagem

Em um mundo de telas, o normal passou a ser a autoexposição. As crianças e adolescentes, assim como seus próprios pais, costumam compartilhar vários momentos e assuntos particulares na internet. Isso pode acarretar dentre outras coisas uma futura ou atual ridicularização das crianças.

A geração Youtuber se sente impelida a consumir e produzir conteúdo na internet. Embora as crianças não tenham discernimento sobre a maior parte dos assuntos, elas têm acesso às informações que não estão preparadas para digerir e acabam reproduzindo comportamentos alheios ou pior conduzindo o delas pela busca de likes e aprovação social.

Isso acontece diariamente, sem a percepção dos pais ou com a ajuda deles. Alguns pais estimulam os filhos a produzir conteúdo e eles próprios expõem os filhos, através de fotos e vídeos na internet, em seus perfis ou no perfil da criança.

Apesar de as crianças se divertirem com tudo isso, os pais devem ficar atentos, para os riscos que uma exposição precoce pode trazer. As crianças podem se tornar alvo de rejeição nas redes sociais e essa rejeição pode ser imensamente danosa à autoestima das crianças prejudicando-as em seu desenvolvimento social. Além do mais, as crianças quando crescerem podem se envergonhar do conteúdo divulgado e colherem novamente os maus frutos dessa exposição. Por essa razão, se deve refletir bastante antes de compartilhar ou autorizar a criança ou o adolescente a divulgar a sua intimidade, na internet.

Riscos à saúde física e psicológica

Os pais sempre tiveram receio sobre os estranhos que seus filhos poderiam encontrar na rua, mas não se devem negligenciar os perigos que os estranhos online representam para as crianças e adolescentes. Cerca de 30 % dos pais não monitoram os contatos e mensagens de seus filhos, deixando-os, assim, expostos aos perigos online.

Os pais devem conhecer as pessoas com as quais seus filhos se relacionam nas redes sociais, pois, nesses ambientes seus filhos ficam vulneráveis a atacantes como pedófilos e estelionatários, que podem com ações criminosas lhes causar nocivos e irreparáveis danos.

O nível de monitoramento deve mensurado conforme a idade. A privacidade é um direito inerente às crianças e aos adolescentes, portanto, conforme eles vão crescendo os pais devem ampliar e respeitar a privacidade deles. Nas idades iniciais é sempre recomendável um controle maior em virtude da maior vulnerabilidade deles. No entanto, a medida mais eficaz e proporcional é hábito do diálogo e da orientação com os filhos.

Outro perigo ao bem estar das crianças e adolescentes é o ciberbullying. Segundo a Lei 13.185, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

O grande vilão no bullying não é um estranho, mas um conhecido! Uma pessoa que convive com o intimidado, motivo que torna a agressão indefensável e inevitável.

É responsabilidade da família, da escola e da sociedade como todo adotar medidas de prevenção à intimidação sistemática e de promoção do respeito entre os indivíduos.

As práticas de intimidação geram efeitos prejudiciais não somente na vida do agredido, mas também na vida do agressor, mesmo que ele/ela seja um adolescente. Se o agressor for um adolescente, ele comete um ato infracional e fica sujeito às medidas socioeducacionais, não obstante as sanções sociais inerentes. Tem se tornado comum que as empresas consultem a vida pregressa das pessoas que pretendem contratar e evitem contratar pessoas com históricos de intimidação sistêmica.

Em 2017 o SaferNet realizou 359 atendimentos que tratavam de ciberbullying, do quais 242 vitimaram meninas e 117 vitimaram meninos. Infelizmente as meninas assim como as mulheres são as maiores vítimas de violência simbólica. Em cada de agressão, procure ajuda!

A internet não é a vilã o zelo é a solução

A legislação brasileira (Constituição Federal /88, Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outros diplomas legais) confere às crianças e adolescente vasta proteção, inclusive quando a conduta ocorre por meio da internet e vários são os aplicativos e configurações, que ofertam o controle parental, assim, o ponto chave da proteção das crianças e adolescentes na internet ainda é o cuidado dos pais.

A internet não é uma vilã, ela é o meio pelo qual condutas tomam forma, e essas condutas são decisões humanas boas ou ruins. Ela ofertou a pais e filhos uma série de ferramentas que podem ser usadas para o lazer, para o estudo e para o cuidado e também para o prejuízo das crianças e adolescentes.

Fato é que um número considerável de pais não está informado o suficiente, sobre os riscos que seus filhos estão sujeitos. Portanto, o primeiro passo da família é se informar, para que assim se possa informar seus filhos e muni-los de defesas para qualquer possível ataque.

Fascículos e cartilhas produzidos pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR estão gratuitamente disponíveis para que pais e filhos se informem e previnam incidentes, além dos textos há vídeos que podem ser elucidativos para os pais. A informação, associada à confiança construída pelo diálogo familiar, permite às famílias condições de se evitar problemas ou se atenuar os danos das condutas, quando já praticadas.

Em caso de um ataque contra uma criança ou adolescente, a depender de sua natureza, o conselho tutelar, a escola, a polícia civil ou Promotoria de Justiça da Infância poderão assistir os pais, na defesa dos direitos de seus filhos, e para conseguir orientação, os pais dispõe de instituições como o SaferNet que realizam atendimentos online.

A família não está sozinha na defesa dos ciberpequeninos, como vimos os recursos estão aí. Contudo o cuidado parental e o diálogo ainda são os maiores escudos na defesa dos pequenos usuários.

As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a suas autoras e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.

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