Isolamento social na terceira idade: Os impactos naqueles que não estão habituados com as novas ferramentas digitais
Escrito por
Anna Celia (Ver todos os posts desta autoria)
25 de março de 2020
Na última semana, o Brasil se viu obrigado a parar. Os impactos do novo coronavírus são maiores do que imaginávamos, e a sociedade deu um passo para trás, na tentativa de conter a pandemia que se espalha mundialmente. Seguindo recomendações da OMS, as pessoas devem evitar sair às ruas – salvo em caso de trabalhos essenciais ou para compra de comida ou medicamentos – e, quando necessário, devem manter-se precisas nos objetivos, seguir todas as recomendações de higiene e ficar fora o mínimo possível, sempre evitando aglomerações. Empresas trocaram a rotina diária de escritório pelo trabalho em casa, escolas e universidades suspenderam suas atividades ou optaram pelo EaD (ensino a distância) e até mesmo as igrejas decidiram realizar seus cultos e missas online. Esse texto tem o intuito de refletir sobre uma parcela da sociedade que não está tão habituada com as novas ferramentas de tecnologia, e foi inserida em um contexto onde elas são a única opção de interação: os idosos.
Todos estão conectados
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018, cerca de 21,872 milhões de pessoas residentes no Brasil tinham mais de 65 anos. Atualmente, mais de 28 milhões de brasileiros compõe a terceira idade e um quarto dessa população já se encontra online, seguindo como “o grupo que mais cresce em rede social”. Nos últimos anos, as pessoas com mais de 60 anos já vêm entendendo a necessidade da apropriação das ferramentas de tecnologia e da vida online para o acompanhamento dos avanços digitais, e muitos idosos procuram cursos específicos buscando se manter inteirados e capazes de socializar nesse meio. Porém, é preciso levar em consideração que a inclusão digital da terceira idade compreende um processo diferente, quando comparado ao de crianças e jovens: os idosos, em grande parte, necessitam de mais tempo para manusear e assimilar as funcionalidades dos dispositivos tecnológicos.
Penso como função do governo cooperar para essa integração, incluindo como uma necessidade em políticas públicas para a terceira idade. Um exemplo: a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) estava com inscrições abertas em um projeto de inclusão digital voltado para idosos em Manaus, prevendo 16 turmas em diferentes turnos. Vale lembrar que a inclusão digital já foi discutida anteriormente no blog do IRIS e em nossos projetos de pesquisa, pontuando as diferenças entre acesso, alfabetização digital e apropriação dessas tecnologias.
É preciso pensar não somente nos idosos que não estão habituados com instrumentos digitais, mas também naqueles que moram sozinhos e não possuem auxílio para o uso e entendimento dessas tecnologias. Para melhor compreensão e facilidade na proposição de soluções, vamos dividir os idosos que possuem smartphones em dois grupos: os que já são conectados há algum tempo e são inteirados em redes sociais e ferramentas digitais, e aqueles que optaram recentemente por se juntar a esse meio. Possivelmente, os que ainda estão se familiarizando com os aparelhos necessitam de um auxílio inicial para o uso. Uma ferramenta muito útil nesse processo é o aplicativo iDosos, que foi desenvolvido para auxiliar aqueles que estão aprendendo a utilizar as funções básicas de um smartphone e conta com o uso de emojis nos tutoriais, facilitando ainda mais o entendimento.
O compartilhamento de notícias em tempos de crise
No atual cenário brasileiro, no qual a população se encontra em isolamento social como forma de evitar a propagação do coronavírus, a internet oferece um ambiente cheio de possibilidades de entretenimento e lazer, auxiliando no distanciamento físico entre grupos familiares e de amigos. Entretanto, será que todos se encontram cientes do lado negativo e perigoso desse meio? O comportamento dos internautas com mais de 60 anos tende a ser mais despreocupado, tornando-os mais propensos a desinformação e alvos fáceis de golpes online.
Segundo pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em outubro de 2016, o comportamento online dos idosos é majoritariamente composto por relacionamento com familiares (62,9%) e amigos (59,8%), a busca por notícias sobre economia, política, esportes e moda (47,8%) e informações sobre produtos e serviços (43,0%). Entretanto, nos últimos dois anos ficou claro que as pessoas utilizam o Whatsapp como uma das principais fontes de notícias. É preciso extrema cautela com o compartilhamento de informações nas redes sociais, pois a disseminação de conteúdos falsos através delas é gigantesco. Um estudo realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), comprova que 70% das notícias falsas na internet têm mais probabilidade de serem compartilhadas, além de se espalharem seis vezes mais rápido do que notícias reais. O jornal Estado de Minas, na coluna #praentender, fez um vídeo informativo sobre os impactos que desinformação sobre a epidemia do COVID-19 (Coronavirus) pode causar.
Conclusão
A previsão é que a pandemia se estenda por alguns meses. Enquanto isso, seguimos acompanhando as notícias – sempre respeitando nossos limites e cuidando com carinho da saúde mental –, fazendo nossa parte para diminuir os impactos do vírus. Seguimos também trabalhando para viver confortavelmente dentro das limitações necessárias, sendo empáticos com aqueles que não estão familiarizados com os recursos de informação, comunicação e entretenimento digital que estão sendo fornecidos e auxiliando-os para o melhor aproveitamento possível.
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As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.
Ilustração por Freepik Stories
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Anna Celia (Ver todos os posts desta autoria)
Graduanda em Relações Públicas na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Foi estagiária do Núcleo de Mediação da Fundação Clóvis Salgado e em mídias sociais do site Culturadoria.