O cenário cultural no ambiente virtual: vantagens e limitações
Escrito por
Anna Celia (Ver todos os posts desta autoria)
24 de agosto de 2020
A discussão acerca do trabalho remoto e da educação online tomou a internet desde a implementação do distanciamento social, há cinco meses. Sabemos que, infelizmente, a “troca” de tarefas rotineiras para o ambiente online é um privilégio que nem todos podem ter, já que a inclusão digital segue como um problema grave no Brasil. O tema é um dos projetos de pesquisa do Instituto e você pode encontrar produtos destes estudos aqui.
Porém nem só de obrigações vive um ser humano. Fomos obrigados a encontrar também novas formas de lazer e, consequentemente, estabelecimentos e produtores culturais tiveram que se reinventar para oferecer entretenimento e evitar sofrer grandes impactos econômicos. Como fomentar a cena cultural no cenário de 2020?
A migração para o ambiente online abre possibilidades…
De acordo com relatório publicado pela Unesco e pelo Conselho Internacional de Museus, 85 mil equipamentos culturais em todo o mundo estão fechados devido a pandemia do Covid-19, e aproximadamente 13% correm o risco de não retomar às atividades. O cenário não é animador, mas alguns lutam para se manter e deixar esse cenário com o menor dano possível.
Algumas alternativas encontradas foram disponibilizar visitas virtuais as suas exposições através de sites e aplicativos, como o Google Arts&Culture. Um ponto positivo para essa adaptação ao ambiente online é a captação de público independente das barreiras territoriais. Isso permitiu que eu, residente de Belo Horizonte, visitasse o “La Casa Azul”, museu que foi casa da pintora Frida Kahlo e está situado na Cidade do México. É claro que a experiência é bem distinta de estar fisicamente presente em um museu, mas continua super válida.
Além disso, rodas de debate, cursos e oficinas online com gestores de grandes instituições culturais vêm sendo oferecidos, muitos deles gratuitamente. Algumas companhias de teatro continuam apresentando suas peças, adaptadas é claro, como o Grupo Galpão.
No meio musical, acompanhamos as apresentações ao vivo de dentro das casas de nossos artistas favoritos diretamente para as nossas. Eu ainda me divirto com as lives e algumas vezes combinei de assistir com amigos, no esquema “juntos a distância”. Entretanto, ainda que todos estejam vivendo há meses dessa maneira, ainda acontecem problemas técnicos em diversas dessas apresentações, muitos deles ligados a falhas de conexão entre todos os envolvidos na produção.
… mas também, proporciona algumas restrições.
Os problemas técnicos mencionados anteriormente nos levam a pontuar algumas questões, pois o ambiente digital não é sempre um facilitador. Muitas vezes é, na verdade, o contrário disso. Além da questão da inclusão digital, que afeta os consumidores e dificulta o acesso e aproveitamento dessas formas de entretenimento, existe também a questão da neutralidade de rede, muitas vezes impedindo a circulação e alcance do conteúdo na internet, não oferecendo ao consumidor todo o conteúdo que pode ser de seu interesse.
A neutralidade da rede é um dos 10 Princípios Para o Uso e Governança da Internet e, conforme já disse anteriormente, tem como objetivo preservar a arquitetura aberta da internet, permitindo a concorrência entre sites e serviços e a livre circulação de conteúdos. Artistas, gestores e produtores culturais que utilizam a internet como ferramenta de trabalho defendem a neutralidade de rede no Brasil bem antes do ambiente online ser o palco principal para essa atividade.
Abraçando o presente, pensando no futuro
Por um lado, felizmente contamos com esse mecanismo que nos permite explorar algumas possibilidades em meio a um cenário que não nos favorece, e enquanto dependentes dele devemos tirar o maior proveito possível. É por isso que existem aqueles que se dedicam a estudar e entender os desdobramentos e impactos da internet, assegurando a melhor maneira de utilizá-la.
Por outro, é perfeitamente normal não se sentir confortável com esse “novo normal”, como alguns chamam, e estar cansado de viver em frente a essas telas. Como disse Luíza Brandão, nem tudo vai online, e os desequilíbrios sociais, econômicos e culturais se tornam bastante evidentes.
Tudo bem se agarrar ao fato de que essa é uma realidade passageira, o que de fato é, mas tendo consciência que afetará nossa maneira de viver no mundo pós-pandemia, e claro, a forma de pensar, fazer e consumir cultura.
Enquanto vivemos como vivemos, confira o texto de Felipe Duarte com dicas sobre o que fazer quando a vida acontece pelas suas janelas.
As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.
Ilustração por Freepik Stories
Escrito por
Anna Celia (Ver todos os posts desta autoria)
Graduanda em Relações Públicas na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Foi estagiária do Núcleo de Mediação da Fundação Clóvis Salgado e em mídias sociais do site Culturadoria.