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Mulheres do IRIS inspiram

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8 de março de 2022

Ser mulher não deveria ser um fator que impõe dificuldades, mas ainda tem muito o que mudar nesse sentido. Essa postagem é um convite não a esquecer dos obstáculos, mas tentar buscar forças, encarar e ir mesmo assim, lembrar que é importante continuar. Sobretudo, que há momentos que nos inspiram e, esperançosamente, podem inspirar você.

Então, na tônica de quebrar o convencional, hoje eu divido o teclado com minhas colegas pesquisadoras do Instituto de Referência em Internet e Sociedade e cada uma de nós conta algo que ajuda a trazer um pouquinho mais de fôlego.

Ana Bárbara

Em 2017, no meu segundo ano da graduação, eu fui no meu primeiro evento fora da universidade. Viajei para apresentar um texto meu e estava extremamente nervosa, insegura e empolgada – na mesma proporção. Dividi mesa com pessoas que eu admirava muito, mas me sentia muito pequena naquele lugar. Depois da apresentação, de dialogar com os interlocutores, uma pesquisadora que hoje sou grande admiradora, a Fernanda Rosa, me chamou pra conversar e me deu dicas preciosas sobre meu tema e minha pesquisa, que eu penso e uso até hoje.

Ela conversou comigo em particular, me incentivou para que eu continuasse pesquisando e estudando. Também acolheu minha ansiedade e nervosismo de estar ali.

Eu não sei se ela se lembra desse episódio, mas eu nunca me esquecerei de tamanha generosidade e gentileza.

Eu desejo que todas meninas e mulheres tenham outras meninas e mulheres fortes e generosas em quem se inspirar, sempre, em todos os ambientes!

Juliana

Um dia, disseram que eu devia ser bem educada. Eu devia ser meiga, delicada, sorrir, ser prestativa – porque princesas eram assim. Na hora, eu achei coerente e pensei, “tudo bem”. Me esforcei para cumprir com as expectativas.

Um dia, percebi que “educação” tinha reflexos diferentes entre meninas e meninos. Sentar de perna aberta era falta de educação para nós, mas não para eles. Falar alto era falta de educação para nós, mas não para eles. Tirar a camisa era falta de educação para nós, mas não para eles. Na hora, não achei coerente e pensei “por quê?”. Me esforcei para entender.

Desde esse dia, entendi que não devo fazer o que dizem que é certo e que devo ser quem acredito que sou. Até hoje, venho me descobrindo nessa trajetória: entre o dever e o ser encontrei espaço para ir sendo. Uma resposta eu já tenho: não nasci para ser uma princesa (e que bom)!

Fernanda

Você conhece a história da Malala Yousafzai? Eu ganhei o livro que conta a história dela quando ainda estava no colégio. Ela é uma jovem que nasceu no Paquistão e que teve seus estudos interrompidos quando ainda era criança, por ser menina, em razão da dominação da região em que morava pelo Talibã. Todavia, essa situação a incentivou a buscar continuar estudando e, mais do que isso, lutando pelo direito de outras garotas também frequentarem a escola.

Apesar de ter sofrido um atentado pelo talibã, em virtude do seu posicionamento, Malala continua sendo hoje uma grande representante do direito à educação, em especial, das mulheres, sendo a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Na época em que ouvi essa história pela primeira vez, fui inspirada pela coragem dessa garota que lutou pelo seu sonho. Isso me mostrou o poder que uma mulher pode ter, independente da idade.

Luíza

Saí de uma das tantas falas públicas, que fazem parte do meu trabalho sobre internet, tecnologia e sociedade, com uma sensação familiar: a de que ninguém naquele recinto havia escutado o que eu tinha para dizer. Embora familiar, o fato de que cada participação como aquela é resultado de trabalho de anos, muita reflexão, estudo e horas de dedicação ainda me dava a sensação de que aquilo que eu faço parece valer menos do que todos os outros interlocutores que (ainda) são majoritariamente homens. Dividi exatamente essa impressão com uma amiga. Algum tempo depois, o registro oficial daquela mesma ocasião foi divulgado. A mesma amiga me mandou e destacou a parte em que eu era a única pessoa nominalmente citada, com a observação de que “parece que te ouviram, afinal”. Foi apenas uma situação das muitas que já foram e das que ainda virão, mas ao ver aquele registro me lembrei que é preciso continuar falando, mesmo se houver a impressão de que não somos ouvidas. Ou de que somos menos ouvidas. É preciso continuar falando, para combater o silêncio, a solidão, a frustração. E, mais do que isso, é preciso continuar falando para lançar as sementes. Os brotos aparecerão.

Lahis

Quando eu entrei para a graduação, minha faculdade estava com um mestrado por fechar. Eu me sentia um pouco correndo atrás de moinhos de vento ao falar sobre como gostaria de fazer pesquisa com alguns colegas. Havia quem acreditasse que o curso de Direito não era lugar pra isso. Que eu estava fora da realidade. Não havia bolsas de iniciação científica no meu curso, não havia edital de seleção para pesquisar, era tudo muito abstrato e distante. 

Quando eu e um grupo de colegas fundamos, junto com nossa orientadora, um grupo de pesquisa, a muito custo conseguimos uma sala para organizar as atividades. Como voluntárias, ocupamos aquele espaço, fizemos uma escala de horários. Seguimos, fizemos projetos de pesquisa, conseguimos custear alguns materiais e participar de eventos. Apesar de não ser algo que desse reconhecimento ou frutos concretos imediatos, sempre tive a sensação de que valia a pena, de que eu deveria seguir porque era o que eu valorizava. Já tive momentos em que fui considerada teimosa por seguir na pesquisa, arrogante por não me conformar. Hoje, tenho a sorte de trabalhar com pesquisa e de inclusive ter como colega de trabalho uma pessoa que fez o mestrado naquela mesma faculdade, onde ainda existe o grupo de pesquisa que participei da fundação – e, inclusive,  vários outros! 

Seguir valeu muito mais do que eu sequer poderia imaginar quando era só uma estudante “teimosa” de graduação. Tem dias difíceis, momentos onde parecemos estar contra o vento. O caminho não é fácil e nem sempre no final tem um pote de ouro. Nem precisa ter, porque olhar pra caminhada e ter orgulho dos meus passos e de quem caminhou e caminha comigo é impagável.

As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.

Escrito por

Coordenadora de Pesquisa e pesquisadora no Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS), Doutoranda em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mestra em Direito da Sociedade de Informação e Propriedade Intelectual pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Membro dos grupos de pesquisa Governo eletrônico, inclusão digital e sociedade do conhecimento (Egov) e Núcleo de Direito Informacional (NUDI), com pesquisa em andamento desde 2010.

Interesses: sociedade informacional, direito e internet, governo eletrônico, governança da internet, acesso à informação. Advogada.

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