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Educação midiática em foco

10 de abril de 2025

Mais do que proibir, é preciso desenvolver habilidades para um uso mais sensível e crítico…

Cara pessoa leitora, sou eu mais uma vez. Fazia um tempo que não escrevia conteúdos para essa rede e senti um pouco de saudades. Então chegou a hora de tirar a saudade e dar espaço para uma conversa que vai ser um pouco diferente de outras que já tivemos por aqui. 

Afinal, se você já leu outros textos que escrevi nessa página do IRIS, sabe bem que gosto de construir narrativas um pouco mais analíticas. Porém, dessa vez, me desafiei (e fui desafiada) a algo novo: construir uma espécie de “giro de notícias” sobre temas que se correlacionam com educação midiática. 

Então se você tem interesse em ficar por dentro do que tem acontecido nesse último mês, fica comigo até o fim, e te prometo que você vai me agradecer pelas várias referências de uma curadoria muito bem feita a quatro mãos – as minhas e as de minha colega de trabalho Luisa Melo (que tem inclusive um artigo ótimo, escrito sobre sexismo digital).

Então sugiro que pegue seu copo, encha de água e senta que lá vem informação – até porque não vai adiantar muito se informar se você não se hidratar minimamente para lidar com os impactos da crise climática. Rio 40º graus tem cada vez mais parecido a realidade e menos um ditado popular ou tema de música. 

Crise climática, desinformação e educação midiática

Esse ano o Brasil sediará a COP30, isso é, o maior evento mundial sobre mudanças climáticas, que está em sua trigésima edição. O evento, ligado às Nações Unidas, é o principal fórum de negociações climáticas onde se reúnem representantes governamentais, organizações da sociedade civil, empresas diretamente (ou indiretamente) ligadas à pauta do clima, dentre outros agentes. 

Se você já ouviu falar sobre a COP30, provavelmente já sabe que ela ocorrerá em Belém, a capital do estado do Pará, região norte, amazônia brasileira, e justamente por isso foi escolhida como sede do evento. Agora o que talvez você não saiba é que esse mega evento tem gerado custos danosos para a região e especialmente para os/as moradoras locais, como tem denunciado o perfil disguiados, uma produtora de audiovisual independente de Belém. 

Mas você pode estar agora se questionando, “o que tudo isso tem a ver com desinformação e educação midiática?” 

Então bora lá, vou refrescar sua memória. Há menos de um ano, em 29 de abril de 2024, o Rio Grande do Sul, lá na outra ponta do país, sofreu uma das maiores tragédias climáticas desses últimos anos: uma mega enchente que deixou centenas de mortos e mais de 10 mil pessoas desabrigadas. No segundo semestre do mesmo ano, a Amazônia brasileira sofreu seriamente com crimes ambientais de queimada, e minha cidade, Porto Velho (Rondônia), foi diretamente impactada com a seca do Rio Madeira, que deixou centenas de famílias isoladas e até mesmo sem água para beber ou fazer sua higiene básica. A forma como ambos os casos foram (ou não) noticiados só demonstram a urgência de investirmos no combate a desinformação climática

No dia 26 de março deste ano, o Brasil sediou o Climate Information Integrity Summit,  evento que debateu sobre perspectivas de combate à desinformação climática. O governo brasileiro afirmou que a integridade da informação será uma das prioridades durante a COP30, e que ampliará esforços governamentais no desenvolvimento de uma rede que una pesquisadores, organizações e centros, em torno da temática. Quem falou pelo governo foi Nina Santos, chefe do escritório de Consultoria Especial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil e Subsecretária da Secretaria de Políticas Digitais.

Caso você tenha se interessado por esse tópico, indico a matéria do Clima Info, “Por que combater a desinformação climática é essencial em ano de COP no Brasil?” para complementar sua leitura sobre o tema. Afinal, os impactos da desinformação estão diretamente relacionados à  crise climática, especialmente quando falamos sobre a disseminação de argumentos inverídicos que relativizam os efeitos das mudanças climáticas.

Adolescência, quando a arte imita a vida 

Adolescência, é uma nova minissérie da Netflix, lançada em março de 2025. Na trama, acompanhamos a história de Jamie Miller (interpretado por Owen Cooper), um adolescente de 13 anos, acusado de matar uma colega de escola. Segundo a própria descrição usada pela empresa de streaming, a série acompanha a jornada dos pais, do terapeuta e do investigador em tentar compreender o que realmente aconteceu. 

Feito essa breve sinopse da série, primeiro um alerta, talvez essa análise contenha pequenos spoilers. Mas, prometo, nada muito grande de modo que lhe entregue o final da trama – eu sou do grupo de pessoas que perde o interesse em obras audiovisuais quando pego spoilers. 

Pois bem, trago essa obra artística para análise dentro da pauta de educação midiática, especialmente a partir de provocações feitas ao ler o texto “Adolescência” expõe a desconexão entre adultos e os hábitos digitais de jovens”, escrito por Bruno Ferreira para o Instituto Palavra Aberta

Mas também o trago, por motivos um tanto quanto óbvios, caso você esteja na bolha dos cinéfilos ou militantes, do TikTok, do X ou do Instagram: todo mundo que eu conheço tem citado essa obra como uma produção que tem evidenciado ciclos de violência. 

Mas em que medida essa produção se conecta com o tema de educação midiática? Bruno Ferreira, nos aponta de forma bem explicita a interconexão entre os dois temas:  

A produção destaca uma atmosfera escolar nociva, física e virtualmente, na qual agressor e vítima conviviam, de relações baseadas em sucessivas violências simbólicas, calcadas em compartilhamentos de fotos íntimas, bullying e cyberbullying. Os professores também aparecem em situações problemáticas, em que buscam exercer a autoridade de forma truculenta. Além disso, os estudantes comunicam-se entre si, pelas redes sociais, usando de uma gramática indecifrável para os adultos — com significados específicos contidos nos emojis usados — com o intuito de constranger e humilhar uns aos outros.

Em matéria da BBC “‘Adolescência’: como surgiu a sinistra ‘machosfera’ retratada pela série” Jacqui Wakefield traça uma complexa e bem estruturada análise sobre a correlação entre sexismo, internet e a fase da adolescência, apontando como a articulação destas categorias tem afetado diretamente no desenvolvimento saudável e seguro de meninos e homens, o que impacta na segurança e na vida de meninas e mulheres. 

Caroline Oliveira em matéria escrita para Brasil de Fato, aponta ainda que a ausência de moderação de conteúdo e a propagação de discursos desenfreados da extrema-direita nas redes sociais têm influenciado diretamente comportamentos misóginos. E, além disso, aponta o quanto a ausência de diálogos intergeracionais tem constituído uma distância entre adolescentes, pais, professores ou quaisquer sujeitos adultos que estejam distanciados das relações entre pares de adolescentes. Como ilustração, na série o investigador do caso Luke Bascombe (interpretado por Ashley Walters) apenas conseguiu encontrar uma pista possível para compreender o que estava acontecendo a partir de uma explicação que recebeu de seu filho.

A minissérie adolescência escancara em nossa coletividade a necessidade do investimento na educação midiática, especialmente a partir de metodologias de aprendizagem entre pares, com bases críticas ao combate do discurso de ódio

Políticas públicas para o uso seguro e saudável

Está cada vez mais nítido que só é possível construir e configurar futuros possíveis na interação humano e tecnologia, se, coletivamente, estruturarmos meios mais saudáveis de uso. Não à toa, o Governo Federal tem desenvolvido uma série de políticas públicas para apontar os possíveis caminhos a serem explorados. Além de constituir críticas diretas a necessidade de regulação das plataformas

No dia 11 de março, a Secretaria de Comunicação Social, lançou o material “Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais”, um guia que orienta pais, responsáveis e educadores sobre os impactos das telas em termos de segurança e bem-estar. Dentre as recomendações do material, destacam-se especialmente:

  • A vedação ao uso de telas por crianças com menos de 2 anos;
  • A orientação para que crianças com menos de 12 anos não tenham smartphone próprios;
  • A necessidade de atenção a classificação indicativa das redes sociais;
  • O estímulo ao uso de dispositivos digitais por crianças ou adolescentes com deficiência, independentemente de faixa etária, para fins de acessibilidade.

O material dialoga diretamente com a Lei n.º 15.100/2025, que restringe a utilização, por estudantes, de aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares, nos estabelecimentos públicos e privados de educação básica durante as aulas, recreios e intervalos. O guia pode ajudar quem educa a se instrumentalizar com informações para construir diálogos mais abertos com as crianças e adolescentes sobre os motivos da restrição imposta pela Lei

Giro de notícias correlacionadas com Educação Midiática

Esse foi o giro de notícias dos temas mais quentes que estão diretamente relacionados com educação midiática. Eu sei que podem ter algumas notícias que ficaram de fora, então que tal você aproveitar e ir nas nossas redes sociais comentar uma das notícias que você gostaria de ver por aqui? 

Aproveita e corre para conferir todas as informações pertinentes ao nosso projeto do IRIS que trabalha especialmente educação midiática a partir de metodologias de aprendizagem de educação entre pares.

As opiniões e perspectivas retratadas neste artigo pertencem a seu autor e não necessariamente refletem as políticas e posicionamentos oficiais do Instituto de Referência em Internet e Sociedade.

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