#SID24: dia da internet segura. um lembrete da importância de cuidar de si e do outro na rede
Escrito por
Ana Bárbara Gomes (Ver todos os posts desta autoria)
30 de janeiro de 2024
O dia 6 de fevereiro será marcado pela mobilização global em torno do dia da internet segura (safer internet day – SID). Um dia para lembrar a toda a comunidade internacional de usuários, reguladores e desenvolvedores a importância de criar e zelar por um ambiente digital seguro para todas as pessoas. E como construímos isso? #SID2024
O governo federal já divulgou a sua agenda online. Em São Paulo, nos dias 6 e 7 a Safernet realizará painéis presenciais para conversar sobre o tema e desenharmos coletivamente quais os nossos desafios. Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Educação também estará engajada em promover a conscientização de seus alunos, monitores e professores. E, ao redor do Brasil e do mundo, atores públicos e privados se juntam para pensar a importância de fazermos da internet um lugar positivo e saudável para todas as pessoas.
Uma internet segura para todas as pessoas
Não é raro nos depararmos com conteúdo suspeito na rede: seja de pessoas tentando se passar por outras para aplicar golpes, seja de campanhas duvidosas que prometem grandes vantagens em troca de pouco esforço, além das informações falsas, os conteúdos manipulados e tantas outras armadilhas que estão no dia a dia dos usuários da internet, em especial nas plataformas de redes sociais. Os prejuízos aos cidadãos são evidentes: os prejuízos financeiros a partir de golpes, a desordem informacional levando a uma dificuldade de discernir entre uma informação de qualidade e uma fake news; tudo isso acaba por estimular um ambiente digital de pouca confiança em que muitos usuários sentem medo de se apropriar da tecnologia.
O dia da internet segura é uma oportunidade importante de nos sensibilizarmos para o cuidado que temos na rede – com a gente e com o outro – a forma como manejamos nossas informações, nossa privacidade, o quê expomos na rede, isso tudo deve fazer parte da consciência dos usuários para que construamos uma internet mais segura para todo mundo. Aqui você vai ver um manual de boas práticas para fazer o seu check up de segurança nesse grande mutirão do dia da internet segura.
Agora, nem só de ferramentas técnicas se construirá uma internet segura para todos nós. Para um ambiente digital verdadeiramente diverso, democrático, inclusivo e seguro é preciso que ele seja saudável e acolhedor, que as nossas diferenças sejam celebradas e não motivo de ofensa. O combate ao discurso de ódio, ao racismo, à lgbtfobia, ao machismo e outras práticas discriminatórias continuam sendo uma tarefa necessária e um desafio para a nossa sociedade. Somos muitos nessa rede das redes, e ela só será verdadeiramente inclusiva quando, além de acessível, for um ambiente seguro para todas as pessoas e em vários sentidos de “segurança”.
Bem estar na rede
Nas últimas semanas o debate sobre a presença online e a nossa integridade mental esteve em alta nas redes sociais. As conversas sobre medo do cancelamento iminente, do linchamento virtual tomou as redes em ocasião de participação da influenciadora digital Vanessa Lopes do reality show Big Brother Brasil. Nos dias seguintes, outras pessoas famosas passaram a relatar como o medo de perder apoio, engajamento, acabou fazendo com que se privassem de determinadas coisas e vivessem em constante estado de alerta, e como a superexposição traz custos à vida pessoal.
O debate também deu visibilidade a preocupações coletivas: um diagnóstico de que não temos conseguido lidar de forma saudável com as redes – em especial crianças, adolescentes e jovens – ao passo que nossa rotina está cada vez mais imbricada à dinâmica digital; onde o sonho de criança que costumava ser jogador de futebol na outra geração, agora para muitos é ter fama e influência na internet.
No final do ano passado, a notícia de que, nos Estados Unidos, famílias têm se mobilizado para pedir, na justiça, a responsabilização de empresas que constroem o seu modelo de negócios baseado nas vulnerabilidades emocionais de crianças e adolescentes, induzindo ao consumo danoso das redes. O tema – que tem sido uma preocupação das famílias há anos – têm agora tomado lastro no debate público. No Brasil, em janeiro, a Secretaria de Comunicação da presidência da república (SECOM) abriu uma consulta pública sobre o uso saudável de telas por crianças e adolescentes, a fim de coletar subsídios para ações do governo em torno do tema. Dentre as preocupações contempladas na consulta estão os potenciais danos associados ao uso excessivo de telas, os cuidados com o desenvolvimento neurológico e saúde mental das crianças, além da construção de relações sociais significativas.
Cuidar da nossa integridade física e emocional na rede não é uma tarefa fácil, são muitos estímulos que acompanham a cadência de uma vida acelerada que temos cultivado. Também não deve ser vista como uma tarefa individual. Podemos sim adotar práticas que aumentem o nosso bem estar e nos permitam relacionar melhor com as tecnologias – e este texto também é para encorajá-lo a isso, priorizar a si mesmo é algo que só você pode fazer por você. No entanto, este também é um desafio de nossa sociedade: sobre a forma como construímos a nossa tecnologia, como temos disputado as tecnologias do nosso tempo? Como temos nos apropriado das nossas ferramentas para construir e exigir um desenvolvimento tecnológico que nos apresente futuros não só possíveis mas, principalmente, desejáveis? O debate precisa ser coletivo para que possamos cooperar e traçar caminhos que nos fortaleça em direitos e em cidadania.
Um caminho pela frente: conscientização, mobilização e apropriação das tecnologias
Você pode estar se perguntando: “tá, mas o que eu posso fazer pra mudar isso? Não sou nem famoso pra me preocupar. Sou um anônimo que não tenho nada a esconder”. Primeiro, é preciso repensar o senso comum de que não há nada a se esconder: se fosse tão simples assim não usaríamos senha no telefone, ou nem mesmo usaríamos chaves nas portas das casas, não é mesmo?
Todo mundo deve se preocupar com as informações que publica: isso é um autocuidado. Se atentar à sua privacidade online faz parte de uma postura consciente diante das redes. Eu lhe convido a repensar as suas práticas de segurança online: você tem feito um consumo crítico das informações que chegam até você? Cuida da sua privacidade; tem atenção à segurança de suas senhas? Depois, eu lhe convido a esse chamado mais amplo: pensar a internet como um ambiente coletivo, democrático, diverso e, então, fortalecê-la como tal, tendo uma postura pró-ativa para promover boas práticas online, combater e denunciar discursos de ódio, desinformativos ou conteúdo perigoso.
Enquanto sociedade, continuaremos a discutir de forma multissetorial mecanismos de proteção e regulação que visem garantir os direitos dos usuários e promover o bem estar na rede: aumentando os compromissos com maior transparência, ferramentas de verificação de informações, dentre outras medidas que podem aumentar a cooperação entre os setores rumo a um ambiente digital mais seguro.
Zelar por uma internet positiva, com mais empatia entre os usuários, com mais transparência, mais responsabilidade e segurança é uma tarefa de todos nós; e o dia da internet segura é uma boa oportunidade para colocar o papo na mesa, para pensarmos sobre qual é a nossa responsabilidade na construção do ambiente digital que queremos.
Escrito por
Ana Bárbara Gomes (Ver todos os posts desta autoria)
Diretora do Instituto de Referência Internet e Sociedade, é mestranda em Política Científica e Tecnológica na UNICAMP. É formada em Ciência Sociais pela UFMG. Foi bolsista do Programa de Ensino Tutoriado – PET Ciências Sociais, onde desenvolveu uma pesquisa sobre o uso de drones em operações militares e controvérsias sociotécnicas. Fez parte do Observatório de Inovação, Cidadania e Tecnociência (InCiTe-UFMG), integrando estudos sobre sociologia da ciência e tecnologia. Tem interesse nas áreas de governança algorítmica, vigilância, governança de dados e direitos humanos na internet.