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A criptografia para a proteção da atividade jornalística

18 de outubro de 2022

Perseguição, ataques e ameaças contra jornalistas na América Latina e no mundo infelizmente não é uma novidade. Pelo contrário, tais violências têm se tornado mais comum com o passar dos anos. Segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), os ataques virtuais – incluindo o vazamento de dados –  contra jornalistas apresentaram um salto em 2021, com um aumento de 104%. 

Diante de tantos casos que ainda não chegam a nosso conhecimento, a questão que precisamos refletir é: como fica a segurança e proteção digital da atividade jornalística e dos próprios profissionais de imprensa? 

Em mais um texto da série CriptoHistórias você vai conhecer como o jornalista investigativo Will Araújo, que trabalha como editor  e repórter sob demanda, utiliza a segurança digital e ferramentas como a criptografia em seu cotidiano.

A criptografia na atuação jornalística

Com passagens em veículos tradicionais, hiperlocais e também trazendo uma bagagem da ciência da computação, o jornalista Will Araújo tem na sua prática jornalística a produção de matérias investigativas que exigem um alto grau de apuração. Para manter a segurança nessa etapa da produção da notícia, ele se preocupa com os rastros que suas apurações podem deixar.

“Um exemplo de rastros de apuração é que muitas vezes você tem que olhar o LinkedIn, tem que verificar dado posicionamento ou entrar e saber certidão de imóveis de uma pessoa. Essas informações pertinentes são respaldadas pela LGPD dentro do que a gente tem da prática jornalística. Mas elas estão em muitos pontos ocultas”, diz o jornalista.

Ele explica que é nesse sentido que as ferramentas de segurança digital, entre elas a criptografia, ajudam os profissionais a diminuir essa visibilidade no momento da apuração e também a evitar situações constrangedoras, sejam ameaças ou a perseguição nos ambientes digitais.

Além disso, na comunicação com as próprias fontes, Will também se atenta para o vazamento de conversas. “Eu uso uma ferramenta que precisa da minha conta para poder acessar, então eu autorizo quem pode visualizar, tenho essas precauções em relação às fontes”, prossegue Will Araújo.

Outra preocupação com as suas comunicações são os aplicativos utilizados. Segundo o jornalista, as conversas via redes sociais são utilizadas apenas para uso pessoal, enquanto o WhatsApp e e-mail são os canais para a comunicação com as fontes. 

“No quesito de comunicação, nem sempre a gente consegue manter esse nível de padrão, mas a partir do momento que eu estou fazendo a investigação, preciso ter uma preocupação. Se eu estou tocando um assunto jornalístico, de investigação, que vai causar constrangimento e tem um envolvimento principalmente político e empresarial, eu utilizo o máximo possível de ferramentas que de uma ponta a outra são criptografadas”, finaliza.

Proteção aos jornalistas

Além de estar presente no trabalho de apuração do jornalista, a criptografia também é uma importante ferramenta para a proteção dos próprios profissionais de imprensa. “Sem essas ferramentas, que ajudam na minha atuação, é como se eu estivesse chegando na porta de uma pessoa e pedisse informações pessoais da vida dela, que ela não quer fornecer para ninguém e que podem comprometer ela. É uma situação de me colocar permanentemente em perigo”, conta Will.

O jornalista também disse que durante a sua carreira, já sofreu outras situações similares, como a invasão de celulares e ameaças, o que o faz tomar mais cuidado no momento de apuração dessas pautas investigativas. 

“Quando você traz a tona o desvio de verba de uma fulana de tal, um candidato que é laranja ou uma pessoa que faz uso errado do fundo da prefeitura, ocorre ataques em redes sociais de pessoas que são vinculadas a ela e eu comecei a ter um pouco mais de receio”, explica.

Essas represálias contra jornalistas acendem também um alerta até onde os constrangimentos nas redes sociais, discursos de ódio e assédio podem virar ações concretas, como o que aconteceu com a jornalista Daphne Caruana Galizia em 2017, em Malta, morta após divulgar um trabalho investigativo expondo esquema de lavagem de dinheiro e corrupção de um empresário maltês.

Assim como a criptografia protege os cidadãos e seus dados, ela tem um papel essencial para o jornalismo investigativo e a segurança dos profissionais de imprensa. Uma imprensa livre também é símbolo de uma sociedade democrática e conseguimos isso quando investimos também em uma criptografia forte. 

Quer conhecer as aplicações da criptografia e o seu papel social? Não deixe de acompanhar a série CriptoHistórias e a live no instagram do IRIS que acontecerá no dia 21 de outubro às 11h30, no Dia Global da Criptografia.

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