Ser mulher: We can do it
12 de abril de 2018
O que é ser mulher? O que realmente podemos fazer? Para compreender como essas temáticas se relacionam com a governança da Internet e as mulheres, é imprescindível entender como se deram os avanços sociais, os quais permitiram às mulheres se reconhecerem enquanto sujeitos sociais e atores da governança, não obstante a constância de padrões abusivos.
Lugar de mulher? É onde ela quiser
Ser mulher é ser do gênero feminino? A ideia de gênero que será exposta neste texto já se encarrega de dizer que não. Ao considerar gênero enquanto performance, no que já dissera Judith Butler em sua obra Problemas de Gênero, tem-se um conceito construído, imperativo, que se naturaliza na repetição de ritos sociais, logo, há um direcionamento com a formação de caixinhas de padrões. Gênero é a repetição do que a sociedade acredita ser ‘o certo’.
Na construção dos padrões as mulheres têm seus intelectos questionados, suas atitudes direcionadas ao recato,determinação de lugares em que suas presenças são aceitáveis, o que explica, por exemplo, os baixos índices de participação da mulher na política. Ora, se à mulher já são designados ambientes específicos, como transgredir e ocupar os espaços renegados?
Para responder a pergunta feita acima, entenda que não é suficiente saber o que é opressão e se esquivar de obedecer o que lhe impõem, é necessário agir. O agir vem no sentido de criar os espaços de diálogos e tornar as novas ideias atraentes aos ouvidos daquelas que também anseiam por mudanças.
A performance da mulher na internet
A Internet. Um computador em rede e se faz possível a comunicação. De imediato se pensa que mulheres podem transpor para o ambiente digital as suas urgências. Criam-se redes feministas, debatem decisões das supremas cortes em fóruns na Internet, trocam mensagens por aplicativos que utilizam criptografia ponta a ponta, compartilham eventos em redes sociais, usam App para locomoção, tornam-se usuárias aplicativos para relacionamento; mas e quem regula as políticas/termos e condições de uso destes recursos?
Em todos os serviços demonstrados acima, e utilizados por mulheres diariamente, as suas diversas performances são filtradas. O filtrar vem no sentido de lapidar, sob a lógica da indústria de dados. Então, vê-se o que é útil ou não ao mercado. O que seria tão somente um ambiente frutífero para debates representa, ao mesmo tempo, uma nova ameaça à diversidade, criando novos padrões de aceitabilidade, e expondo mulheres a análises que sequer tiveram conhecimento de que seriam realizadas.
Um exemplo de como isto ocorre são os Apps que lidam com questões fisiológicas das mulheres, dentre elas: dores de cabeça, picos de estresse, período fértil, etc. Nestes casos, mais uma vez, enxerga-se a performance do gênero, no entanto, agora sob a ótica do sexo. Os dados ressignificam os corpos femininos, que passam a representar um produto gerador de contínuas informações. Volta-se então para a pergunta: Qual a ferramenta que as mulheres podem utilizar para aguçar a consciência das demais?
Governança por mulheres
O meio é a governança, a ferramenta é o diálogo emancipador. Primeiro, permita-se vislumbrar o que vem a ser a governança. A partir da ótica de James Rosenau, governança é mais amplo que governo pois se vale de mecanismos informais, permitindo que pessoas e organizações, dentro das suas áreas de atuação, satisfaçam suas necessidades e respondam às suas demandas.
Logo, mulheres em constante diálogo, por se permitirem conhecer suas urgências, apresentam-se enquanto a mudança necessária. Ocupar espaços, chegar até outras que esperam por um modelo de liderança, empoderá-las para que sejam suficientemente líderes e donas de suas próprias vozes.
É esta a resposta que algumas pesquisas têm apresentado, como no caso do estudo realizado pela Kaspersky Lab’s, intitulado Beyond 11 Percent: A Study into Why Women Are Not Entering Cybersecurity, constatou-se que apenas 11% da indústria de Cybersecurity é composta por mulheres. Este é um dos exemplos que reforçam a ideia de lugares pré-definidos para as mulheres. Nesta pesquisa foram questionadas várias mulheres sobre o que consideravam necessário para maior engajamento de mulheres para esta área, cerca de 42% concordaram que a presença de mulheres, em uma espécie de modelo a ser seguido, contribuiria para o maior interesse por atividades na área.
Ainda que momentaneamente não pareça possível, ao fugir um pouco do imediatismo inerente de quem busca por soluções palpáveis, são nas iniciativas de dimensão interpessoal, através de conversas com as mulheres das famílias, com as amigas e no famoso ativismo de sofá que a transformação se efetiva.
E com um convite ao novo, queremos ouvir das mulheres que anseiam e são #MulheresnaGovernança. Quais as suas performances na governança?
[RECOMENDAÇÃO DE LEITURA: BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003.]
[RECOMENDAÇÃO AUDIOVISUAL: Madhumita Murgia – Como corretores de dados venderam minha identidade. TEDxExerter.]