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Reflexões sobre Conectividade Significativa

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1 de setembro de 2023

Em 2022,  foi desenvolvido no IRIS o projeto “Conectividade Significativa em comunidades Brasileiras”, apoiado pela Embaixada Britânica. Dentre as muitas particularidades desse projeto, uma delas foi a investigação “mão na massa”, realizada de maneira prática e ao vivo na cidade de Belo Horizonte e região metropolitana. Seu objetivo principal foi “contribuir para a superação das barreiras à inclusão digital e promoção de uma sociedade mais igualitária e democrática” e, para isso, foram realizadas uma fase de entrevistas com lideranças comunitárias locais e, em um segundo momento, uma capacitação presencial com o mesmo público alvo, sobre Conectividade Significativa. 

Pela vertente “mão na massa”, participar do projeto exigiu ações diferentes da rotina comum de atividades do IRIS. Foi preciso, inicialmente, uma busca ativa pelas lideranças comunitárias que poderiam colaborar com nossas atividades – em resumo, procuramos por grupos como indígenas, quilombolas, líderes comunitários favelas, imigrantes e assentamentos. Já nesse momento, a partir do método bola de neve, foram realizadas diferentes interações, a fim de encontrarmos lideranças interessadas em serem entrevistadas e, posteriormente, em participar da capacitação que seria oferecida. Nos bastidores da pesquisa, vale compartilhar o quão difícil foi, muitas vezes, chegar até essas pessoas e despertar o interesse e ganhar o primeiro voto de confiança.

Já entrando no conteúdo do projeto, a própria desconfiança apresentada inicialmente pelas lideranças que foram convidadas a participar da fase de entrevistas ilustra uma situação de insegurança. Isso porque muitas pessoas, já acostumadas a receberem golpes ou por se sentirem desprotegidas digitalmente, desconfiavam do nosso contato, tendendo a duvidar ou se esquivar do que estava sendo ofertado. Apesar disso, fomos insistentes e obtemos sucesso. Foram realizadas 15 entrevistas e 30 pessoas compareceram à capacitação, representando seis categorias de comunidades diferentes. Dito isso, algumas questões merecem ser aqui abordadas.

Buscando identificar a Conectividade Significativa na prática – a fase das entrevistas 

Se você ainda não conhece o termo “Conectividade significativa”, sugiro dar uma olhada nesse texto do blog, que apresenta o conceito e seus elementos principais. Outro ponto importante é que o projeto que está sendo aqui referenciado deu origem a esse relatório, que retrata a fase das entrevistas e discorre também sobre seu objetivo, metodologia, dentre outros elementos.  Posto isso, o objetivo dessa seção é compartilhar um pouco sobre como foi entrevistar lideranças comunitárias de Belo Horizonte e região metropolitana e como percebemos a Conectividade Significativa – ou a ausência dela – na prática. 

Conforme consta no anexo do relatório, nosso roteiro se iniciava com uma apresentação pessoal e do instituto, seguida por perguntas que visavam a apresentação do entrevistado e de sua comunidade. Em seguida, buscou-se identificar as principais dificuldades e demandas sobre Inclusão Digital e, ao final, possíveis sugestões para resolver os problemas apontados. Assim, várias perguntas foram feitas quanto ao uso da internet no dia-a-dia, qualidade da rede e dificuldades enfrentadas pela comunidade no acesso e uso diário. 

Retomando os elementos que compõem o conceito de Conectividade Significativa, de acordo com o relatório publicado pela Alliance for Affordable Internet (A4AI), temos: i) velocidade semelhante ao 4G; ii) disponibilidade de um smartphone para o uso; iii) acesso ilimitado da rede em casa, no trabalho ou local de estudo e iv) uso diário. Visto isso, não seria necessário apenas o acesso à rede, por exemplo, mas uma boa velocidade e a possibilidade de utilizá-la pelo celular com uma rede que permite o uso ilimitado. 

De volta às entrevistas, infelizmente não parece uma surpresa o fato de que a grande maioria dos entrevistados não apresentava os quatro elementos de forma concomitante. Apesar de grande parte possuir smartphones e se utilizar diariamente da internet, a velocidade boa e a possibilidade de acessar a rede de maneira ilimitada ainda não são realidades. 

Em adição, foi observado que a qualidade do uso dos entrevistados e dos membros de suas comunidades também era baixo, faltando um bom letramento digital e a devida apropriação das tecnologias. O cenário observado, por sua vez, foi de um uso viciado em grandes plataformas, como Facebook, WhatsApp e Instagram, de forma que os únicos meios de comunicação, informação, utilidade e entretenimento se resumem a tais. A despeito disso, o reconhecimento da internet como um meio de execução da cidadania foi apresentado por vários entrevistados, os quais apresentaram interesse e curiosidade em melhorar seu uso e, assim, serem capazes de ampliar as redes, acessar políticas públicas e mesmo criar ambientes de marketplace para divulgar os produtos desenvolvidos na comunidade. 

Visto as questões apresentadas, é indubitável o quanto o tema precisa ser discutido e trabalhado. Tendo isso em vista, além das contribuições já realizadas, o IRIS apresentará um painel sobre o tema em seu seminário, que será realizado já na semana que vem, a fim de criar um espaço de discussão e reflexão. Vale mencionar também que a equipe de Inclusão Digital do IRIS está, atualmente, desenvolvendo um projeto voltado para o tema da Apropriação Tecnológica, com foco nas comunidades de Belo Horizonte – vale acompanhar os resultados! 

Conectividade significativa para uma rede de pessoas e direitos – sobre o seminário 

Nos dias 5 e 6 de setembro, em Belo Horizonte, o IRIS realizará a quarta edição do Seminário Governança das Redes, que pretende discutir diferentes tópicos dentro dos grandes temas da governança da internet e novas tecnologias.

Dentre eles, teremos um painel voltado a discutir especificamente sobre Conectividade Significativa, no dia 05/09 às 11h30. Contaremos com painelistas de diferentes setores, conforme abaixo:

O objetivo do painel será discutir, sob o ponto de vista multissetorial, como a Conectividade Significativa tem sido entendida no Brasil e como os diferentes setores têm contribuído para a pauta. Em adição, como podemos avançar e construir uma Internet mais democrática e igualitária de maneira colaborativa. 

Faça a sua inscrição no nosso Seminário e venha participar dessa discussão! 

 

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Pesquisadora do Instituto de Referência em Internet e Sociedade. Bacharela em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Direito Internacional Privado, pela mesma instituição. Integrante e liderança de projeto na área de Inclusão digital. Tem como áreas de interesse: Moderação de conteúdo, Inclusão digital, Populismo digital e Direito Político.

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