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Youth Start-up: Engajando Jovens na Governança da Internet

18 de fevereiro de 2017

A questão do jovem na Governança da Internet não é uma preocupação recente. Embora programas como o ICANN Next Gen e, principalmente, o Youth@IGF tenham atingido grande destaque e sucesso nos últimos anos, a necessidade de uma visão renovadora e refrescante para os principais problemas da Governança da Internet, somente proporcionada por jovens, sempre foi reconhecida.

Entretanto, o debate a respeito do engajamento sempre foi por diversas vezes abstrato, vago e pouco propositivo.  Criou-se uma espécie de meta-debate sobre o jovem nas discussões de Governança, e um meta-engajamento sobre como engajar jovens na Governança.

Este texto busca analisar, a partir da experiência do autor e de leituras diversas, os atuais esforços da juventude na Governança da Internet, bem como os principais elementos que devem ser endereçados para garantir uma efetiva integração do jovem nos ambientes de debate; e, por fim, a proposição de que pode ser alterado nas iniciativas presentes para atingir tais objetivos.

Através de uma analogia e um paralelismo com os esforços empregados por governos e organizações privadas de todo o mundo para fomentar startups – empresas tecnologicamente inovadoras de grande impacto – tentará-se demonstrar que os esforços para garantir um efetivo e produtivo engajamento dos jovens podem ser simplificados e tornados mais eficientes a partir de um reconhecimento adequado das forças e fraquezas do jovem de 18 a 25 anos.

Iniciativas

Atualmente, entidades de diversos setores (stakeholders) da Governança da Internet investem em iniciativas que buscam um maior engajamento de jovens de 18 a 25 anos através de programas de bolsas, fellowships e outros apoios, além de sistemas de mentoria, cursos e outras formas de qualificação.

Todos os programas com o qual estamos familiarizados endereçam os pontos-chave no engajamento da juventude, mas pecam em um ponto ou outro.

O programa que mais atinge os requisitos-chave que considero vital para um eficiente engajamento da juventude provavelmente é o Programa Youth@IGF. Originalmente pensado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.Br – e Internet Society – ISOC, o Youth, em sua edição de 2015 e 2016,  visou selecionar um grande número de jovens, para um curso de educação a distância pelo período de um mês, demandando a  participação interativa entre os jovens, após o qual a fatia mais participativa recebeu bolsas que cobrem despesas de viagem, hospedagem e alimentação.  Além disso, o número de jovens selecionados é geralmente alto (Aproximadamente 80 por edição).

A analogia da Start-up

Para explicar o sucesso de certos programas, bem como recomendar melhorias, farei primeiro uma analogia entre o investimento em uma Start-up e o investimento em capacitação de jovens para os debates de Governança da Internet. A analogia é conveniente tanto pelas similaridades quanto pelo contexto no qual estão inseridos.

O que é uma startup?

A conceituação de “startup” é sempre motivo para bastante discussão. Por isso, diremos que é apenas uma empresa de caráter inovador, alto impacto e rápido crescimento. Estes são os traços de uma start-up que nos interessam. O que mais nos importa para a analogia, entretanto, não é a definição precisa da natureza de uma start-up, mas o tipo de investimento que se faz neste tipo de empresa para que ela seja bem sucedida.

Start-up como motor de inovação e alto impacto

Algumas características de uma start-up nos vem a calhar para a analogia. Elas são:

Alto grau de risco e incerteza: Uma start-up raramente é um investimento garantido. É mais comum e esperado que uma empresa desta natureza falhe, que seja bem sucedida e tenha uma vida longa.

Alto nível de inovação: O que diferencia uma start-up de uma empresa tradicional nascente é sua ênfase em inovação: seja tecnológica, seja no modelo de negócios, seja em ambos. As start-ups frequentemente buscam empurrar as fronteiras de seus empreendimentos, criando soluções e produtos inovadores a partir de um investimento proporcionalmente baixo.

Rápido crescimento: Uma start-up geralmente alcança rápido crescimento e expansão após validação e sucesso do seu produto, dada a natureza escalável deste.

Como fazer uma start-up bem sucedida?

Garantir o sucesso de uma start-up é sempre um grande desafio: tanto para os empreendedores quanto para investidores e governos que também se beneficiam com o sucesso destas empresas. Entretanto, algumas medidas foram utilizadas em um número suficiente de casos bem sucedidas para que possam ser consideradas condições sine qua non para que uma start-up ou um grupo delas dê retorno adequado. Focarei em três:

Investimentos diretos externos: toda start-up bem sucedida precisa e vai receber algum tipo de investimento direto externo a seus sócios e empregados em algum estágio da carreira, e frequentemente o receberá em vários. Seja capital semente, capital de anjo ou venture capital, dificilmente uma empresa do tipo consegue se erguer e decolar apenas com o dinheiro de seus sócios e com eventuais lucros obtidos.

Mentorias e incubadoras: Um mecanismo bem sucedido para aumentar as chances de sucesso de uma start-up é a presença de uma mentoria, assessoria ou orientação vinda de indivíduos ou entidades com maior conhecimento: sejam especialistas em uma incubadora, investidores anjos experientes ou sócios mentores que já validaram aprendizado em outros empreendedores.

Aproximação: Start-ups se beneficiam do chamado efeito cluster. De acordo com o conceito, a proximidade geográfica e a existência de uma rede entre as start-ups e as pessoas nelas envolvidas. Um efeito de colaboração e competição simultâneos é considerado responsável por boa parte do sucesso de empresas inovadoras por todo o mundo.

Transpondo a analogia

Apresentadas essas características de start-ups e das formas de fomentar seu sucesso, podemos comparar com esforços para garantir o efetivo engajamento de jovens nos ambientes de Governança da Internet.

O jovem é uma start-up

Cada uma das características de uma start-up acima mencionadas pode ser identificada no jovem e as formas de investimento adotadas por investidores privados e governos para garantir seu sucesso, em equivalentes do ecossistema multissetorial da Governança da Internet.

Risco: o investimento no jovem, seja financeiro ou seja capacitivo, é inevitavelmente de alto risco.  As taxas de sucesso – com sucesso sendo um estável e contínuo engajamento do jovem no meio – podem variar objetivamente. Mesmo em ecossistemas bem sucedidos, a taxa de ‘mortalidade’ de start-ups é acima de 90%. No pequeno grupo amostral do Youth@IGF, o sucesso é certamente maior que 10%.

Inovação: A presença do jovem na Governança da Internet é reconhecidamente uma forma de oxigenar e de trazer novos pontos de vista aos debates diversos. Seja por diferenças generacional ou apenas de pontos de vida etários, a contribuição do jovem é distinta e ajuda a evitar a estagnação. Após algum tempo, atores já consolidados tendem a calcificar seus posicionamentos e visões, reduzindo a produtividade das discussões.

Rápido crescimento: Experiências recentes com o Youth@IGF, ICANN Next Gen e Escolas de Governança da Internet mostram que, uma vez efetivamente engajado, a participação e o impacto do jovem no ambiente crescem muito rapidamente. Os frutos do Youth@IGF começaram a ser colhidos antes da consolidação do programa no IGF. Os jovens envolvidos produziram uma Declaração para ser lida durante o Fórum. Após o Fórum, fundaram o Youth Observatory dentro do Special Interest Group da  ISOC, cresceram em suas carreiras acadêmicas e profissionais de origem e formaram uma poderosa rede internacional que colabora em diversas iniciativas.  

Como garantir o engajamento

Como, então, garantir o maior engajamento de forma mais eficiente e sem cair nos ciclos viciosos de meta-engajamento?  

Arrisco dizer que garantir um efetivo engajamento do jovem na Governança da Internet precisa de apenas três elementos-chave baseados nos elementos acima: recursos, mentoria e fomento de networking. Garantido este tripé de apoio, o jovem, que já tem disposição para se engajar e contribuir, estará suficientemente amparado para o engajamento. Um quarto elemento bônus pode ser incluso, embora este seja um elemento que depende muito mais da iniciativa dos próprios jovens do que de uma  assistência externa: a inclusão de jovens em painéis sobre os diversos temas relacionados à Governança. Atualmente, os jovens em geral só encontram espaços em painéis relacionados à juventude, reforçando a noção de meta-debate cíclico e sem objetividade. Algumas exceções se consolidaram no último ano, mas em geral a prática ainda se distancia do discurso.

Recursos: O jovem de 18 a 25 anos dificilmente tem os meios para frequentar os eventos e fóruns relacionados à Governança da Internet, como o IGF e as reuniões da ICANN. Quando o tem, provavelmente o obteve da família ou a muito custo burocrático com a instituição de ensino superior na qual estudam. Esta é provavelmente a maior barreira entre o jovem e seu efetivo engajamento.

Mentoria: Mesmo o mais confiante dos jovens ainda terá, nesta faixa etária, dúvidas e incertezas quanto aos limites e escopo de suas possibilidades de atuação. Além de capacitação prévia, através de cursos ou debates, é importante a presença de mentores mais experientes – preferencialmente não muito mais velhos que os candidatos – para oferecerem consultoria e auxílio aos mais novos.

Networking: Talvez o elemento de engajamento mais subestimado ou mesmo ignorado. O jovem dessa geração prospera e cresce mais rapidamente quando inserido em uma rede de pares. Talvez um dos motivos pelos quais o Youth@IGF demonstrou bons resultados foi o alto número de jovens selecionados ao mesmo tempo. A rede de jovens formada pelo programa permitiu o surgimento de uma força colaborativa grande o suficiente para que todos os jovens selecionados se sentissem fortalecidos pelos números, acolhidos pela paridade e empoderados pela colaboração e pela mentoria. A rede de jovens deve aproximá-los e ser sempre fortalecida e renovada para garantir perenidade.

Estes três elementos são indispensáveis para o sucesso de um programa de engajamento de jovens e sua importância está na inseparabilidade. Formam um tripé que perde a sustentabilidade caso qualquer um deles não esteja mais presente.

Algo mais é necessário?

Boa parte dos meta-debates sobre engajamento de jovens se perde em perfeccionismos que buscam tapar todos os buracos imagináveis em Programas de engajamento. Alguns responsáveis pelos programas geralmente têm uma taxa de confiança muito baixa na capacidade do jovem de fazer bom uso dos recursos que lhe são dados, e começa a criar barreiras burocráticas e testes para minimizar a todo custo a taxa de ‘desistência’ – ou, usando a analogia das start-ups, ‘mortalidade’ – do programa, mesmo quando isto significa reduzir também a taxa de sucesso.

Takeaways

O jovem não precisa de motivação para se engajar. Qualquer um que passe pelos atuais mecanismos de seleção já demonstra um alto nível de motivação. O que o jovem precisa é apenas dos meios acima citados.

O jovem não precisa de mais do que os três elementos-chave acima para ser bem sucedido no seu engajamento. É preciso que se aceite que é impossível garantir o engajamento perene de todos os jovens que forem selecionados por um programa e é preciso aceitar uma taxa de desistência.

O jovem precisa de confiança e abertura. Ao invés de mecanismos que busquem guiar precisamente e cautelosamente o jovem, os programas devem abraçar o risco e depositar confiança na capacidade do selecionado, inclusive apoiando-o na ocupação de espaços de fala que ele voluntariamente busque ocupar.

Programas devem operar como incubadoras. Retomada a analogia, o programa Youth@IGF pode ser considerado, em grande parte, uma ‘incubadora’ de jovens. Os mecanismos de discussão online e a oportunidade de participarem como jovens dos debates de Governança da Internet tornam-se um campo de experimentação onde o jovem arrisca sem medo, põe ideias a teste e torna-se mais confiante e qualificado para empreender em e consolidar seus projetos.

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