Economia de compartilhamento
Escrito por
Equipe IRIS-BH (Ver todos os posts desta autoria)
13 de junho de 2016
Lucas Anjos e Tatiana Resende
Também chamado de consumo colaborativo, o conceito de economia de compartilhamento tem mudado diversos paradigmas do mercado econômico nos últimos anos. O desenvolvimento de novas tecnologias, além de conectar pessoas, também proporciona mais possibilidades de contratação de serviços, consumo de bens e habilidades, em modelo de negócio independente do mercado econômico formal (veja mais informações aqui).
Esse é um modelo de compra, venda e trocas de diversos tipos, inclusive de bens imateriais, como serviços e bens de propriedade intelectual. O foco desses negócios passou do valor econômico do recurso compartilhado e da transferência de propriedade para a otimização da utilidade de cada bem. Ou seja, bens e serviços ociosos podem ser utilizados em capacidades maiores.
Basta pensar em alguns exemplos simples, como por exemplo a forma com que você consume livros hoje em dia. Você ainda compra exemplares físicos para manter em sua casa? Chega a ler todos eles? Muito provavelmente, você já passou pela experiência de comprar um exemplar e ler somente uma vez, ou mesmo nem chegar a lê-lo. Será então que possuir esses livros em casa é mesmo a melhor forma de consumi-los? Há quem acredite que não, porque é possível acessar esse conteúdo sem efetivamente imprimir um livro, comprar um exemplar e mantê-lo em sua casa.
Novas tecnologias permitem que você crie plataformas digitais que disponibilizam esse conteúdo (Amazon Books, por exemplo). Além disso, é possível conectar pessoas interessadas em comprar o livro, ou um tempo de posse para consumi-lo após sua leitura. Assim, basta que alguém tenha o interesse em compartilhar um bem ou serviço e outra(s) pessoa(s) tenha interesse em ter acesso a ele, para que haja novas possibilidades de troca, sem muitos intermediários, ou até mesmo pagamentos em dinheiro.
Seguindo esse mesmo exemplo, você pode trocar um livro que já tenha lido com outra pessoa que ainda não o tenha, mas que possua um outro livro ou objeto que você tenha interesse em acessar. Exatamente da mesma forma, é possível que alguém tenha espaço no carro e queira compartilhá-lo com alguém que esteja indo para o mesmo destino. Ou até mesmo o compartilhamento de roupas e acessórios de ocasião, que estejam guardados em seu guarda-roupas. Basta que duas ou mais pesoas que tenham objetivos em comum se encontrem, tornando possível uma troca.
Como se pode perceber, a economia de compartilhamento foca no usufruto do bem, e não em sua propriedade (que é mantida), partindo do pressuposto de que estamos interessados nos benefícios que ele pode nos trazer como uso, e não na propriedade do bem em si. Para aqueles que o detêm, seu compartilhamento pode objetivar o lucro, a divisão de gastos ou a simples cooperação entre pessoas com interesses convergentes.
As origens da economia de compartilhamento
Por mais que algumas pessoas queiram anunciar esse modelo de negócio como algo inovador, esse tipo de consumo sempre ocorreu. Em diversos momentos da história, agentes econômicos que possuem confiança mútua acordam entre si e promovem trocas que são benéficas a ambos, por meio de uma coincidência de vontades. Esse encontro de necessidades similares e agentes que queiram trocar produtos ou serviços acarreta benefícios mútuos.
Mas isso requer confiança entre consumidores. Em pequenas comunidades, onde todos se conhecem, isso era mais fácil. Hoje em dia, é mais difícil conseguir confiança nas relações de compra e venda. Um dos sistemas desenvolvidos no mercado econômico é o histórico creditício de cada agente econômico. As pessoas não se conhecem e não podem confiar entre si.
A internet e a confiabilidade entre usuários
É inevitável que esse modelo econômico se expanda por meio da internet. Você poderia questionar a segurança dessas transações realizadas entre pesoas completamente estranhas umas às outras. O fato é que tem ocorrido atualmente uma gradual (porém robusta) mudança para um tipo de consumo baseado na confiança direta entre usuários online. Isso é possível, principalmente, devido a plataformas que registram do histórico de atividades de cada agente.
Um usuário recebe uma avaliação da experiência de consumo em todos os sites onde faz transações. Essas avaliações geram um histórico, que poderá ser usado por novos usuários para avaliar o grau de confiança naquele agente econômico.
Além disso, é cada vez maior o número de sistemas colaborativos baseados em confiança e em plataformas de avaliações mútuas. Segundo esses sistemas, as partes envolvidas avaliam-se ao fim da transação, com base na experiência que tiveram. Esses dados compõem o perfil de usuário, e futuros interessados em transacionar podem ter acesso à reputação da outra parte, e assim por diante.
Essa dinâmica tem ganhado cada vez mais espaço e há vários impactos sobre novos padrões de consumo. Redes sociais são outras plataformas propulsoras de colaboração, porque auxiliam a reinvenção das formas de consumo. É muito fácil formar grupos com interesses comuns em redes sociais (grupos de carona, consumo coletivo, etc.). Seus propósitos estão cada vez mais específicos, com várias ferramentas para diminuir a distância entre usuários.
Como funciona na prática
Existem diversos modelos de negócios e de consumo colaborativo, muitos deles provavelmente você já conhece. Por exemplo, há estúdios de coworking (compartilhamento de ambientes de trabalho), aplicativos de redes de carona, compartilhamento do uso de bens, serviços de acesso a conteúdos digitais (como Netflix), etc.
Como vantagens, esse modelo apresenta: consumidores mais conscientes; melhor aproveitamento de bens e serviços; diminuição do uso de recursos naturais; menos lixo e desperdício; redução do preço e maior acessibilidades; custos mais baixos; menor interferência e regulação do Estado; e maior eficiência na utilização de ambientes produtos, habilidades e serviços.
Sobre os autores
Lucas Costa dos Anjos é mestrando e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação complementar pela Baylor University School of Law. Especialista em Direito Internacional pelo Centro de Direito Internacional (CEDIN). Bolsista CAPES e membro do Grupo de Estudos Internacionais de Propriedade Intelectual, Internet e Inovação (GNet).
Tatiana Carneiro Resende é graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, com experiência acadêmica na Université Pierre-MendèsFrance em Grenoble, na França. Tem como áreas de interesse em pesquisa: Direito Internacional Privado, Direito Digital e Direito Urbanístico.